quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cinco minutos de fama

Se este fosse outro blogue seriam 15. Aqui é cinco minutinhos e não se queixem. O texto que se segue aborda uma questão central do debate político dos últimos cem anos. Por qualquer razão insondável, Santana-Maia Leonardo, Abrantes (dixit) remete esta profundíssima e bem elaborada tese acerca da "Direita versus Esquerda" para o caixote do lixo que são, entre outros fóruns as "cartas ao director" do jornal Público. Falta de marketing? Muito provavelmente. O bolonhado, consciente do seu papel social, passa a dar a devida divulgação ao texto que se segue. Foi, como já se disse, publicado na Público secção (?) Cartas ao director. É da autoria de Santana-Maia Leonardo, Abrantes, e pode muito bem vir a ser considerado texto de referência. Aí vai, com a devida vénia ao autor, naturalmente:

Direita e esquerda

"Deixando os radicais de lado, encontrar diferenças entre o centro-direita e a esquerda socialista não parece, à primeira vista, uma tarefa fácil. Mas, da minha experiência pessoal, recolhi os seguintes traços distintivos que passo a enumerar.
O centro-direita é conservador, reformista e prudente; por sua vez, a Esquerda socialista é fracturante, pretensamente revolucionária e lunática. O centro-direita não gosta do Estado; a esquerda socialista vive do Estado. O centro- direita prefere sacrificar a excepção do que sacrificar a regra; a esquerda socialista prefere sacrificar a regra do que perder a excepção. O centro-direita norteia-se pela ideia de liberdade, privilegia o trabalho, valoriza o mérito, tem uma consciência ética e preocupa-se com o ser humano; por sua vez, a esquerda socialista norteia-se pela ideia de igualdade, privilegia o emprego, premeia a mediocridade, tem uma consciência ideológica e preocupa-se com a humanidade. Para o centro-direita, quem produz mais e melhor deve ganhar mais; para a esquerda socialista, dois operários com a mesma categoria profissional devem ganhar o mesmo, independentemente da qualidade do trabalho prestado. Para o centro-direita, os homens são capazes do Bem e do Mal, cabendo à sociedade discipliná-los e orientá-los para o Bem; para a esquerda socialista, o Bem e o Mal são conceitos relativos. O centro-direita preocupa-se com a segurança das pessoas e bens, defende as forças da ordem e coloca-se ao lado das vítimas; a esquerda socialista preocupa-se com as garantias de defesa do arguido, tem sempre uma justificação sociológica para o crime e acha sempre excessiva a intervenção da polícia. Para o centro-direita, o primeiro responsável por um determinado acto é quem o pratica; para a esquerda socialista, o responsável é sempre e invariavelmente a sociedade ou o sistema.
O centro-direita avalia os regimes políticos de forma objectiva; a esquerda socialista avalia-os de forma subjectiva. Para o centro-direita, todos os homens são iguais; para a esquerda socialista, os homens de esquerda são dotados de uma superioridade moral que os coloca num patamar ético acima do resto da maralha. Para o centro-direita, os EUA são o principal aliado; para a esquerda socialista, são o inimigo a abater. Finalmente (ufa!) o centro-direita nunca se define como sendo de direita, enquanto a esquerda socialista proclama-se orgulhosamente de Esquerda.
Face a estas diferenças, extraem-se necessariamente duas conclusões: o povo português é, na sua esmagadora maioria, de esquerda; em Portugal, as pessoas de centro-direita são residuais. "
Santana-Maia Leonardo, Abrantes,
Público, cartas ao director, 1 de Setembro

Ora bem: daqui resultam variadíssimas questões. A primeira, saber se o autor é, ele próprio, do centro-direita ou da esquerda socialista, está respondida. É óbvio que o uso do hífen em "centro-direita" e a sua ausência em "esquerda socialista" nos dão uma pista clara. Colocamos sempre o adorno nas coisas de que mais gostamos.
Depois há um agradecimento a fazer: não tinha ideia de quão fácil era adoptar a "esquerda socialista" e rejeitar o "centro-direita". Assim preconizados os termos da equação, isto resolve definitivamente um debate que dura há séculos... Finalmente, só me ocorre a expressão: felizes os pobres de espírito pois deles será o reino dos céus. Como desconfio, pelo indício do hífen que Santana é conservador, imagino que esteja mais próximo de usufruir desta dádiva. Assim seja. É o que, penhoradamente lhe desejo!

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