terça-feira, 10 de junho de 2008

O Regresso da história e o "problema americano" - III

No começo do séc. XXI, William Kristol e Robert Kagan, no ensaio Present Dangers, advogaram o uso do poderio militar americano para refazer o mundo à sua imagem.
Robert Kagan, no ensaio de 2003 Paradise and Power, aliás maravilhoso na forma literária, viria a desenvolver a diferença entre os americanos, herdeiros de Marte, e os europeus, cultores de Vénus. Aos primeiros caberia remodelar o mundo, sempre que necessário pela força militar.
Tudo isto culminou na desastrosa invasão do Iraque, fruto da crença absurda de que ali nasceria espontâneamente uma Suiça.
Fukuyama viria a fastar-se do grupo, e teve a coragem de escrever esta frase tão rara em intelectuais: "I was wrong." Kagan acaba de publicar mais um ensaio, perfeito do ponto de vista literário, com o título O Regresso da História e o Fim dos Sonhos. O título é evidentemente a resposta ao Fukuyama de 1992 que anunciara o fim da História.
Nenhuma palavra de contrição em Kagan, que aliás é o principal conselheiro de John McCain para a política internacional. Nem uma palavra sobre a sua responsabilidade quanto à mistificação pela Administração Bush da opinião pública americana quanto às armas de destruição maciça. agora denunciada do interior por Scott McClellan, antigo porta-voz de Bush, que no seu livro What Happened, publicado há dias, analisa o estranho processo que atrás referi: tal como no marxismo-leninismo, o esforço consciente para forçar a realidade a a adaptar-se à utopia - esforço aliás na altura também feito entre nós, e nomeadamente neste jornal.

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